quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Professor: Uma espécie em extinção Nadja Lira – Jornalista – pedagoga (nadjalira@bol.com.br)



A manchete dos jornais informando que uma criança de 10 anos atirou em uma professora, já não desperta mais a atenção dos leitores. Isso porque, pelo andar da carruagem, não é difícil prever que dentro de alguns anos não haverá mais pessoas interessadas em exercer a nobre missão do Magistério e seremos obrigados a viver em um mundo sem professores. Como se não bastasse o pouco caso do poder público para com esses profissionais, agora são os próprios alunos que dão cabo à vida dos professores e a escola, ambiente idealizado para formar cidadãos cultos, éticos e críticos acaba por se transformar em um lugar perigoso; uma arena; um campo de batalha, onde o professor é diariamente sacrificado de inúmeras formas.
Ao contrário do que apregoam as autoridades desse País, a Educação Brasileira é tratada com desdém, e o professor parece ser um cidadão de terceira categoria, que dia após dia testemunha uma orquestração para minar suas forças e promover sua retirada do mercado de trabalho. Especialmente porque o trabalho desse profissional contribui para abrir os olhos e a mente das pessoas para que percebam os descalabros praticados por esse Brasil à fora.
Assim, não oferecem condições dignas de trabalho a esse profissional, cuja remuneração não corresponde às exigências crescentes dentro da atividade, deixando que a desmoralização do profissional torne-se pública e notória. Não bastassem as dificuldades naturais as quais o professor é submetido, até mesmo comer no seu ambiente de trabalho não lhe é mais permitido.
Não existe estímulo ou qualquer incentivo àqueles que esboçam o desejo de trilhar os caminhos da Educação. O Governo Federal já percebeu que em breve vai faltar professor na rede pública de Ensino e tem divulgado algumas propagandas na tentativa de seduzir candidatos. Mas, não temos conhecimento do efeito produzido por essa publicidade. O fato é que poucos enveredam por essa difícil trilha, porque existem milhares de carreiras bem mais atraentes do que a de formar cidadãos.
As escolas da atualidade estão lotadas de crianças, cujas famílias são cadastradas no Programa Bolsa-Escola e que em sua maioria expressa o desejo de se tornar jogador de futebol, juiz de Direito ou político. Essas são algumas das profissões que povoam os sonhos das crianças que freqüentam as escolas públicas e tal escolha já não causa mais surpresa aos professores.
Afinal, no que se refere ao jogador de futebol, ele ganha o salário dos sonhos de qualquer trabalhador; tem fama e prestígio; é respeitado pela população, desde que faça gols; ostenta carros e mansões cheias de luxo; usam roupas e sapatos de grife; participam de grandes recepções; viajam ao redor do mundo e não precisam estudar para conquistar tudo isso.
Para enveredar na política também não precisa ter esmerada formação acadêmica já que a carreira pode ser trilhada por qualquer semi-analfabeto. Basta saber assinar o nome e ter o dom de iludir as pessoas com uma boa conversa para garantir o voto e pronto: Nasceu mais um político. É necessário falar bem, mas isso não significa que o indivíduo precise estudar para tornar-se bem sucedido na carreira. O salário também é atraente e a carga horária trabalhada é quase imperceptível. O sujeito tem direito a uma infinidade de mordomias pagas com o dinheiro público e isso sem contar com as negociatas, geradoras de mais proventos.
A carreira do Juiz é sedutora não apenas pelo salário, mas porque esse profissional conquista, através de muitos anos de estudo, o objeto de desejo de grande parte da população: O poder de, como se fosse um Deus, decidir sobre o destino das pessoas. Essa possibilidade encanta, não apenas às pequenas criaturas. Enquanto em alguns países do Oriente, os reis e imperadores curvam-se diante de um Professor, aqui no Brasil, qualquer mortal curva-se diante de um Juiz.
O professor que forma todos os outros profissionais tais como, médicos, engenheiros, advogados, dentistas, jornalistas, arquitetos e tantos outros, curiosamente não forma jogadores de futebol nem políticos. Acredito que a presença de um professor na formação profissional dessas categorias faz uma enorme diferença.
Suspeito que seja justamente pela ausência de professores em suas vidas, que uma parcela significativa dos políticos não se porta com a devida ética na vida pública. Também acredito que a ausência de professores na formação de boa parte dos jogadores de futebol seja a responsável pelo assassinato à nossa gramática em suas entrevistas, assim como o seu envolvimento em escândalos internacionais.
Nas salas de aula por onde passei, jamais ouvi uma criança expressar o desejo de querer estudar para se tornar Professor – atividade sem qualquer atrativo. Professor sai de casa às 5:00h da manhã levando uma marmita e retorna às 23:00h; não pode parar de estudar; ganha mal; é obrigado a trabalhar três horários, inclusive nos fins de semana, para garantir seu sustento, seus livros e seus estudos. Portanto, assim como o mico leão dourado, o lobo guará e o jacaré de papo amarelo, acreditem: O professor também se encontra entre as espécies ameaçadas de extinção. (22/Set/2011)

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